Porto do Itaqui: geração de riqueza para o MA

Publicada em: 18.10.2016

Porto do Itaqui: geração de riqueza para o MA

Cerca de 14 mil postos de trabalho diretos e indiretos são gerados a partir da atividade portuária, que movimenta cadeias produtivas e leva desenvolvimento para todo o estado

Quem avista no horizonte os navios que vão atracar no Porto do Itaqui talvez não tenha a exata dimensão da importância econômica deste patrimônio público. Responsável por cerca de 35% de todo o ICMS arrecadado no Maranhão, o Itaqui é um canal de circulação de mercadorias movimentando um pool de negócios que direta e indiretamente impactam a economia do Maranhão e do Brasil.

O Itaqui, inserido no Complexo Portuário do Maranhão, funciona como um grande condomínio que abriga diversos empreendimentos. Além das empresas com negócios diretamente relacionados à atividade portuária, há aquelas que nascem e se desenvolvem ao redor das primeiras, gerando um cluster logístico. Com um efeito em cadeia, as operadoras portuárias, agências marítimas, praticagem e arrendatários – diretamente relacionados ao porto – demandam prestadores de serviços, fornecedores de produtos, transportadores e mão de obra diversificada, movimentando a roda da economia com a geração de emprego e renda ao longo de diversas cadeias produtivas.

Com a responsabilidade de garantir a infraestrutura necessária ao funcionamento de todos esses negócios, administrando e fiscalizando as operações, a Empresa Maranhense de Administração Portuária - EMAP exerce a autoridade portuária e gerencia toda a movimentação atuando desde a atracação e desatracação, fundeio e tráfego de embarcações no porto, zelando pelo cumprimento da legislação vigente, segurança e respeito ao meio ambiente. Com uma estrutura enxuta, formada por 227 funcionários, a EMAP administra o Porto do Itaqui, os terminais externos de Ponta da Espera, Cujupe, Porto Grande e o cais de São José de Ribamar.

Trabalho e renda

A soma de empregos diretos e indiretos gerados a partir da atividade portuária chega a cerca de 14 mil postos de trabalho. Isso inclui, além dos colaboradores da EMAP, das operadoras e arrendatárias, funcionários de órgãos públicos como a Receita e a Polícia Federal, Antaq, ANVISA, Vigiagro, bombeiros e também funcionários de empresas terceirizadas, de restaurantes, agências bancárias e demais empreendimentos estabelecidos no porto e associados às cadeias movimentadas através dele. Há ainda os trabalhadores portuários avulsos (TPAs), que segundo a lei dos portos (12.815/2013) devem, necessariamente, ser demandados pelas operadoras portuárias para trabalhos no Itaqui. Essa mão de obra é gerida pelo OGMO – órgão gestor de mão de obra.

As cargas operadas pelo Itaqui podem ser agrupadas em granéis sólidos como ferro-gusa, fertilizantes, manganês, calcário, carvão, cobre, soja, milho, trigo, arroz, clínquer e farelo de soja, dentre outros; os granéis líquidos, como gasolina, diesel e demais derivados de petróleo e a carga geral, como celulose, cimento, carga de projetos e contêiner, isso sem contar com o embarque de bois vivos, operação iniciada em 2015. Esses produtos integram cadeias que impulsionam a geração de riquezas para o Maranhão.

Uma pequena amostra dessa movimentação dentro do porto organizado é o fluxo de caminhões no Pátio de Carretas do Itaqui, por onde passaram, só em setembro, mais de 3 mil veículos transportando diversos tipos de carga. E por trás de cada um desses veículos há uma série de negócios ao longo da estrada. O caminhoneiro Valdecy Santana da Silva transporta combustíveis para um posto de combustíveis de Barra do Corda. “Faço duas viagens por semana para carregar 15 mil litros de gasolina em cada uma e vou pela estrada tranquilo, pois já saio de lá com o horário agendado aqui no porto”, conta. Nessa atividade há dois anos, ele faz o percurso de 440 quilômetros em oito horas e dorme no próprio caminhão, onde arma sua rede.

Para Mauricio de Paula Silva as viagens são mais longas. Ele mora em Goiânia, dirige seu próprio caminhão e transporta carga por frete. De lá ele saiu com 46 mil litros de álcool, descarregou em Porto Nacional, veio até o Itaqui carregar óleo diesel – em uma das distribuidoras autorizadas – para levar até Goiânia e fechar um ciclo de dez dias de viagem. “Eu ganho com o frete, mas gasto em restaurante, oficina, borracharia e no local onde mandei lavar o caminhão. Então muita gente também ganha”, diz.

O Itaqui é o quinto porto público do Brasil em movimentação de cargas e o primeiro em profundidade. Fechou o primeiro semestre de 2016 com R$ 7,3 bilhões de recursos movimentados em mercadorias e lucro líquido de R$ 28,9 milhões, valor superior à soma do lucro total obtido em 2013 e 2014. A quebra da safra ocasionada pela estiagem deve impactar a movimentação de cargas até o fim de 2016. Entretanto, mesmo nesse cenário adverso o Porto do Itaqui segue mantendo a lucratividade, com lucro líquido projetado para 2016 entre R$ 43 a R$ 49 milhões. A EMAP também vem participando de diversas missões internacionais em busca de novos investimentos para o Maranhão por meio do Porto do Itaqui.

DA PLATAFORMA DE PETRÓLEO À CASA DE DONA ANA

Para se ter uma ideia de como os bons ventos do Itaqui fazem girar a roda da economia, basta acompanhar a rota de um dos produtos por lá escoado: o gás de cozinha. Entre o embarque do GLP (gás liquefeito de petróleo) e o fogão da dona Ana Regina Sousa, moradora do Anjo da Guarda, em São Luís, muitos negócios são realizados. O Brasil importa da Bolívia cerca de 30% de sua demanda de gás, que chega ao país por meio de um gasoduto que é o maior da América Latina, com 3.150 km de extensão. Os outros 70% são produzidos em refinarias de petróleo nacionais.

A carga que chega ao Itaqui vem por Manaus, onde a empresa possui um gasoduto. O Brasil conta com 17 refinarias – 13 são da Petrobras e respondem por 98,2% da produção nacional – e outras quatro são privadas.

No Itaqui essa operação é realizada pela Transpetro, que recebe o GLP dos navios e armazena em esferas gigantes de cerca 18m de diâmetro, 20 m de altura e capacidade para armazenar até 3.200 m³. Depois o gás é transferido diretamente para os reservatórios das duas distribuidoras autorizadas, Liquigás e Nacional Gás, instaladas a 5 quilômetros do porto. Nessas empresas o gás é envasado em botijões e distribuído para o comércio varejista, além de ser distribuído para o Piauí (80% do abastecimento daquele estado sai pelo Maranhão) via terrestre.

Em todo o Maranhão funcionam 100 revendedoras autorizadas e entre essas há as chamadas sub revendas ou filiais, o que eleva o número para estimadas 500 unidades, cobrindo os 217 municípios do estado. Com o reajuste de 15% autorizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) nas refinarias, o preço médio para o consumidor maranhense atualmente é de R$ 57,00 o botijão de 13 quilos. Por ano esse mercado movimenta cerca de R$ 660 milhões com a comercialização de 12 milhões de botijões.

Um desses pontos de venda é o do seu João do Gás, no Anjo da Guarda, onde dona Ana compra sem sair de casa. “Eu só tenho um botijão e na hora que acaba o seu João manda entregar, sem falha”, conta ela.

DO INTERIOR DO MA PARA O MERCADO LIBANÊS

O embarque de gado vivo, em 2015, abriu uma nova e promissora cadeia para movimentação da economia do estado. Um exemplo foi a injeção de R$ 42 milhões em aproximadamente um mês de operação com gado maranhense, em maio deste ano, quando foram exportadas cerca de 11 mil cabeças. Essas operações beneficiaram aproximadamente 200 pequenos e médios produtores de vários municípios maranhenses, entre os quais Açailândia, Imperatriz, Bacabal, Amarante, Itinga, Buriticupu, Santa Inês, Presidente Dutra, Grajaú, Arame, Lagoa Grande e Pedreiras.

Das fazendas localizadas nesses municípios, os animais – negociados pela Agroexport Trading e Agronegócio – foram levados em caminhões para o Estabelecimento de Pré-Embarque, uma fazenda situada em Matões do Norte. “A fazenda continua arrendada para a operação com carga viva e estamos planejando novos negócios”, informa o gerente de Operações Portuárias da exportadora, Douglas Campos.

Depois de um período de descanso nessa fazenda, os animais foram transportados até o porto novamente em caminhões, cerca de 50 para cada embarque. Do Itaqui os animais seguiram para o Líbano.

A operação envolveu o Serviço de Inspeção e Saúde Animal do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, a estrutura do Porto do Itaqui/EMAP e as secretarias de Estado de Indústria e Comércio (Seinc) e de Agricultura e Pesca (Sagrima), além de diversos serviços associados. “Não é apenas o pecuarista que é beneficiado. Para chegar até o navio é necessário transporte, fornecimento de alimentação, feno, forragem e mão de obra, ou seja, muitos produtos e serviços são demandados”, destaca o presidente da EMAP, Ted Lago.

Segundo o diretor comercial e financeiro da Pedreiras Transporte, Antonio Jansen Pereira, essa cadeia de negócios envolveu cerca de 250 trabalhadores portuários (em todos os turnos da operação com gado vivo 100% maranhense) e movimentou um valor estimado de R$ 10 milhões em negócios e serviços ao longo do trajeto. Dois novos embarques de gado vivo maranhense pelo Itaqui estão previstos para ocorrer ainda neste ano e “a expectativa de novas operações é ainda maior para 2017”, informa.

DO MATOPIBA PARA A CHINA E TAILÂNDIA

A cadeia de grãos começa nas lavouras de milho e soja cultivadas em fazendas no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (MATOPIBA) e no nordeste do Mato Grosso e termina principalmente na China, no caso da soja, ou Tailândia, o milho. No meio disso temos cerca de 80 mil postos de trabalho, que abrangem as etapas de produção, químicas, revendas e transporte, e cerca de 60 mil empregos indiretos, que estão nos hotéis, restaurantes, borracharias, autopeças e demais fornecedores de produtos e serviços utilizados ao longo desse caminho.

Das fazendas os grãos são transportados em caminhões até os terminais de transbordo ferroviário operados pela VLI Logística. “Toda a carga de grãos do Maranhão é transbordada na região de Porto Franco e uma pequena parte sai do terminal de Palmeirante (TO)”, informa Luiz Cláudio Santos, presidente do Consórcio Tegram.

Metade da carga de grãos escoada pelo Itaqui chega ao porto em caminhões e a outra metade viaja de trem. A soja produzida no estado representou 30% dos 2,8 milhões de toneladas exportadas em 2016. No caso do milho, esse percentual é de 20%. “A projeção é fechar o ano com uma movimentação de US$ 840 milhões só em mercadoria”, afirma Luiz Cláudio.

Ao chegar ao porto, os caminhões seguem direto para a pesagem e classificação dos grãos. Depois vão para os tombadores do Tegram, com capacidade para descarregar 750 toneladas de grãos por hora em cada um dos quatro armazéns que integram o terminal. Os grãos seguem por correias transportadoras até chegar ao carregador de navios instalados no Berço 103. No caso do desembarque de trem, os vagões seguem para a moega ferroviária, onde os grãos são descarregados para esteiras ligadas aos armazéns, de onde seguem pelas esteiras ligadas ao carregador de navios. Cada armazém tem capacidade para 125 mil toneladas de grãos, totalizando uma armazenagem estática de 500 mil toneladas.

Toda a soja que chega ao Itaqui, seja de produtores maranhenses ou de outros estados, segue principalmente para a China – que importa 75% de toda a soja produzida no Brasil – e para alguns países da Europa e África. A maior parte do milho viaja para Tailândia, Coréia e também segue para alguns países da África e da América Central.

DA FLORESTA DE EUCALIPTO À EUROPA E EUA

É nas plantações de eucalipto da Suzano Papel e Celulose no sul do Maranhão que começa a cadeia da celulose. O eucalipto cortado é carregado até a fábrica, em Imperatriz, em caminhões, em uma média de 250 mil metros cúbicos de madeira por mês. Na fábrica a madeira é descascada, fragmentada, lavada, secada e prensada em placas que depois são cortadas, empilhadas e embaladas. É essa carga de celulose pronta para exportação que segue da fábrica até o Porto do Itaqui de trem, percorrendo 630 quilômetros, uma operação garantida por contrato com a VLI Logística, empresa que opera a ferrovia Norte-Sul.

“O transporte é feito por quatro composições de trens desenvolvidas especialmente para o transporte de celulose. Cada trem carrega 5.760 toneladas em 72 vagões. Isso equivale a mais de 120 caminhões de 48 toneladas cada, que tiramos das estradas”, informa o diretor de logística da Suzano no Brasil, Fábio Almeida.

O maquinista de viagem da VLI, Humberto Barbosa, faz parte dessa história. Ele leva cerca de duas horas para percorrer os 80 quilômetros entre o pátio da Suzano, em Imperatriz, e Açailândia, trecho sob sua responsabilidade. Ele fala orgulhoso da parte que lhe cabe em toda a cadeia. “Adoro o meu trabalho, que faço há 12 anos. O nosso papel é muito importante, de levar o produto da forma mais eficaz e contribuir para ele chegar ao seu destino, gerando ganho para muita gente”, diz.

No Itaqui a carga vai para o galpão da empresa até ser embarcada para a Europa e os Estados Unidos. “A unidade foi instalada no Maranhão estrategicamente para atender a esses mercados, garantindo um importante diferencial ao permitir um ganho de quatro dias de frete em relação aos demais portos”, afirma Almeida.

Todo esse percurso dentro do estado envolve a participação de 5.700 profissionais, entre colaboradores da Suzano e prestadores de serviços, e a geração de aproximadamente 24 mil oportunidades de empregos indiretos. Para a empresa, a cadeia da celulose no Maranhão representa 30% da sua operação no Brasil.

Fonte: Jornal O Imparcial publicada em 09/10/2016