Porto do Itaqui: encantado e encantador

Publicada em: 08.09.2016

Porto do Itaqui: encantado e encantador

O Porto do Itaqui é conhecido no imaginário ludovicense por três fatores, o mítico, o natural e o econômico, sendo um grande marco desses 404 anos de São Luís, lar de um dos mais importantes escoadores de produção e porta de entrada de importações do Brasil e da América Latina.

A região onde hoje se encontra o Itaqui já era uma conhecida área de fundeio, onde embarcações costumavam lançar âncora no Maranhão há muito tempo. Isso bem antes de 1918, ano em que o Governo do Estado deu concessão a uma companhia inglesa, a C.H. Walker & Co. Limited, para que construísse um porto no local. O grupo britânico, no entanto, não deu prosseguimento aos trabalhos e a construção do porto ficou de lado por vinte anos.

O ano de 1939 marca o início dos estudos técnicos do Departamento Nacional de Portos, Rios e Canais - DNPRC, mas as obras só foram iniciadas em 1966, quando se iniciou construiu o primeiro berço. O 102 só ficou pronto seis anos mais tarde. Em 1976, mais dois berços, o 101 e 103. Em 1994, o cais foi ampliado com a construção dos berços 104 e 105. Cinco anos mais tarde o berço 106 foi construído, tendo 420m de extensão. Esse é o berço que recebe os maiores navios, com até 200mil DWR, a unidade mercante para navios, ou seja, o quanto ele pode transportar.

Economia

O Itaqui é um dos poucos portos no mundo todo que pode receber navios com mais de 200 mil DWT. É o que se aprende nas escolas, quando os livros comparam o Itaqui no Maranhão, ao porto de Roterdã, na Holanda, como os dois únicos que podiam receber os maiores navios cargueiros do mundo.

Entre 1973 e 2001 o Porto do Itaqui foi administrado pela Companhia Docas do Maranhão, a Codomar, subordinada ao governo federal, quanto então passou a ser gerido em esfera estadual, pela Empresa Maranhense de Administração Portuária, a EMAP.

Sob administração do estado, o Itaqui ganhou, em 2011, uma linha regular de contêineres, que possibilitou uma movimentação anual de 10mil contêineres de ferro níquel. Em 2015 foi a vez do Terminal de Grãos do Maranhão sair do papel, ampliando a capacidade de exportação no chamado Arco Norte do Sistema Portuário do Brasil, composto por Maranhão, Amazonas, Pará e Bahia, além da ampliação do comércio com países asiáticos, possível pela ampliação do canal do Panamá.

Segundo dados da EMAP, o Itaqui, que hoje tem sete berços cresceu 21% em movimentação de cargas em 2015, e fechou o ano com um "recorde histórico" de 21, 8 milhões de toneladas. "Ainda em outubro foi batida a marca do ano anterior, com 18,10 milhões de toneladas de cargas movimentadas. E em agosto (2015), outro recorde, o de movimentação mensal, com 2,177 milhões de toneladas de cargas movimentadas", contou o presidente da EMAP, Ted Lago.

Os produtos mais exportados pelo Itaqui são a soja, o milho, celulose e também cargas vivas de gado, esta última modalidade iniciada em 2015, já fertilizantes e combustíveis são os dois produtos que mais entram no estado pelo porto.

Terminal de Grãos

O Tegram iniciou suas atividades em março de 2015 e é composto por um consórcio de quatro armazéns, que recebem os grãos vindos pela BR-135 e pela rota ferroviária. Os armazéns têm capacidade para estocar até 500 mil toneladas de grãos e expedir, por meio de carregadores, uma média de 2.500 toneladas por hora. "O terminal opera em berço especializado no Itaqui e, em 2015, o Tegram operou 3 milhões de toneladas de grãos, 1 milhão a mais que o esperado", destacou Ted Lago.

Para o presidente da EMAP, o Tegram faz parte de um novo cenário do Itaqui, que se apresenta como alternativa estratégica para o desenvolvimento do Norte e Nordeste do Brasil. “A entrada de operações do Tegram em 2015 e os novos investimentos para este e o próximo ano atenderão diretamente às demandas geradas pelo Matopiba (Abreviação para Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia) e ainda por parte do Pará, Mato Grosso e Goiás”.

Nesse cenário, o Itaqui surge como opção estratégica para escoar a safra de soja, farelo de soja e milho de todo um território que até então escoava a maior parte da safra pelos portos do Sudeste ou Sul do Brasil. E também tem importância na distribuição de combustíveis para o Maranhão e toda a sua área de influência.

Responsabilidade Social

Outra novidade do Itaqui em 2015 foi a implantação do Comitê de Responsabilidade Social da Área Itaqui-Bacanga, formado pela EMAP e mais 13 empresas que atuam na região. "O Comitê tem como objetivo promover a aproximação entre os gestores, possibilitando um olhar coletivo sobre o território", disse o presidente da empresa estadual.

Segundo Ted Lago, a EMAP conta ainda com o Programa Porto na Comunidade, que possui ações nas áreas da saúde, esporte, cidadania e educação, atendendo mais de 3 mil crianças e adultos nas comunidades do Itaqui-Bacanga, Cujupe e Ilha do Cajual. "Também foi firmado convênio com o SEBRAE-MA para melhoria das condições de trabalho dos vendedores ambulantes que atuam no Terminal do Cujupe", completou Lago.

A princesa encantada

O messianismo na figura do herói português Dom Sebastião é uma das lendas mais emblemáticas da cultura maranhense, que se alinha diretamente com o processo de colonização ibérica. Diz a lenda que um dia o Rei Sebastião, presumidamente morto durante as Cruzadas para libertar a Península Ibérica da dominação mulçumana no séc XVI.

"A crença em um rei encantado que virá salvar o seu povo existe em muitas culturas, podendo ser considerada uma das manifestações do messianismo, ou do mito da espera de um salvador. No Brasil, o sebastianismo foi trazido pelos portugueses, sendo registrado em várias épocas e locais, relacionando-se principalmente ao culto a El Rei Dom Sebastião, que não teria morrido na guerra contra os mouros no Marrocos, mas teria 'encantado'", conta o antropólogo maranhense, Doutor Sério Ferretti, em seu artigo “Encantaria Maranhense de Dom Sebastião”.

A corte do Rei Sebastião também estaria toda encantada e fazendo parte do Bumba meu Boi, de ritos de cura e do tambor de mina, na forma de seres sobrenaturais que seriam vaqueiros, cavaleiros, soldados e nobres. Entre os nobres está até mesmo sua filha a Princesa Iná, com um palácio no fundo no mar, bem abaixo do Porto do Itaqui.

Na década de 1970, durante a construção do porto, cerca de sete escafandristas desapareceram sem deixar rastros, e houve relatos de plataformas que sumiam e voltavam, trabalhadores espantados. Sacerdotes de religiões afros foram chamados e homenagens à encantaria foram feitas como forma de acalmar princesa Iná.

Depois dos sumiços e morte presumida dos operários, o pai de Santo Jorge Babalaô, então responsável pelo Terreiro da Casa da Fé em Deus disse às autoridades da época que para que tudo se acalmasse era necessário pedir permissão à Princesa Iná. Segundo entendimento local, ainda menino o Pai de Santo havia visto o navio de Dom Sebastião na baía de São Marcos. Depois dos trabalhos realizados para a entidade, a construção do Itaqui pode seguir sem mais problemas. Hoje há um altar para Iemanjá, representação religiosa da princesa.

Segundo a administração do Porto, são realizados todos os anos, em dezembro, desde os anos 1970, rituais religiosos na área primária do Porto do Itaqui, coordenados pai de santo José de Itaparandy. A festa começa ainda no terreiro, no bairro do Maiobão, no município de Paço do Lumiar, e então segue para o porto com Tambor de Mina e oferendas à entidade.

Fonte: O Imparcial / Tayna Abreu