O Maranhão é estratégico para o escoamento da safr...

Publicada em: 11.04.2016

O Maranhão é estratégico para o escoamento da safra pelo Itaqui

Para André Nassar, o porto é o local de saída dos produtos agrícolas que fica mais ao norte do país, significando menos custos de exportação

Ribamar Cunha
Subeditor de Economia

Passando longe da crise, o setor agropecuário vem se destacando com crescimento contínuo no país, contribuindo para o saldo positivo da balança comercial brasileira. Nessa entrevista exclusiva a O Estado, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), André Nassar, faz uma avaliação dessa atividade e ressalta a importância da região conhecida como Matopiba na produção de grãos como soja, milho, arroz e algodão e a participação do Porto do Itaqui como eixo logístico estratégico para o escoamento da produção.

No atual momento de crise, verifica-se que o setor agropecuário tem sido a “salvação da lavoura” para a economia brasileira. Como o senhor avalia isso?
A agropecuária é um dos setores da economia brasileira que apresentaram maior crescimento da produtividade, que dobrou em 20 anos, enquanto a da indústria de transformação teve queda 15%. Outro dado importan­te é que a produtividade do agro é superior à média mundial. Cresce 3,5% ao ano, enquanto o mundo registra incremento de 1,8%. As inovações decorrentes da pesquisa e a adoção de novas tecnologias no campo contribuíram para esse resultado. Além disso, o nosso setor vende bem tanto no mercado interno como no externo, o que permite que a agropecuária diversifique o risco. Essa combinação de ganhos de produtividade, inovação e diversificação de mercados faz com que o setor continue crescendo com consistência mesmo em momento de crise.

De que forma a crise está impactando num melhor desempenho da atividade agropecuária?
Não é a crise que empurra a agropecuária para seu melhor resultado. Se há algum efeito positivo, é a desvalorização do real frente ao dólar, compensando a queda dos preços mundiais em dólar e estimulando exportações de produtos brasileiros, como a soja, as carnes, o milho e café. Tanto é assim que em 2015 batemos recorde nas exportações em volume, embora com pequena queda no faturamento em dólar.

A inflação tem nos alimentos um dos grandes vilões. Por que o preço disparou tanto nos últimos meses?
Apenas alguns produtos, como cebola, tomate, batata, alho, mandioca e algumas frutas têm apresentado aumentos acima do índice de preços ao consumidor nos últimos dois anos. Essa alta ocorreu por conta da falta de chuvas nas regiões produtoras. Nos produtos de exportação, como as carnes, ocorreu uma correção nos preços por conta da desvalorização cambial. No entanto, como o câmbio está estabilizado ou baixando, a pressão sobre a inflação não existe mais.

Que políticas o ministério tem desenvolvido para a alta dos preços dos produtos agrícolas recuarem?
A melhor forma de contribuir para que os preços não subam é estimular aumento da produção. E uma das maneiras para se alcançar isso é através do crédito rural oficial, que é a política central do Plano Safra. Na temporada 2015/16, o volume de recursos cresceu 20% em relação à safra 2014/15. O resultado das políticas do Mapa se observa no valor da cesta básica. O preço ao consumidor hoje é 50% menor que há 40 anos.

O Mapa vem adotando uma política de abertura de novos mercados para os produtos brasileiros. Ou seja, o produtor se volta mais para o mercado externo. E o mercado interno, como fica?
Em termos médios vendemos 50% no mercado interno e exportamos 50%. Ou seja, há um equilíbrio. Além disso, quando o Brasil abre novos mercados, estimula o aumento da produção sem qualquer impacto no abastecimento do mercado interno. A produção de grãos no Brasil tem crescido 6% ao ano nos últimos 20 anos, atendendo ao aumento da demanda interna e internacional.

O Brasil é um dos maiores produtores de grãos no mundo, mas ainda se ressente da transformação desses produtos em grande escala aqui mesmo no país, agregando-se mais valor à cadeia produtiva. Que medidas o governo tem adotado para atrair mais investimentos na agroindústria local?
O governo vem estimulando a abertura de mercados internacionais para as carnes, o que contribui para adicionar valor. Outra medida tem sido disponibilizar recursos no Plano Safra para as cooperativas investirem em industrialização. Além disso, o Ministério da Agricultura vem colocando em prática programas em setores específicos, como café e leite, para melhorar a qualidade dos produtos e atender nichos de mercado.

Quando se fala em grãos, a região de Matopiba se destaca como a mais nova fronteira agrícola do país. Qual o potencial dessa região e de que forma o Maranhão está inserido nesse contexto?
O Matopiba se destaca pela produção de grãos como soja, milho, arroz e algodão. Compreende uma área de 73 milhões de hectares, com 377 municípios e mais de 25 milhões de habitantes. A região tem mais de 324 mil estabelecimentos agrícolas. Atualmente responde por 10% da produção de grãos do país. No ano passado, foi criado o Plano de Desenvolvimento Econômico do Matopiba, por meio de decreto da Presidência da República. É um instrumento de planejamento para modernização, competitividade, in­cremento de renda, mobilidade social e sustentabilidade. Os três principais eixos do plano são infraestrutura, inovação e desenvolvimento tecnológico e o fortalecimento da classe média rural. Cerca de 33% do Matopiba ficam no estado do Maranhão. São 15 microrregiões, com 135 municípios. Além da produção agrícola, o estado é estratégico para o escoamento da safra pelo Porto de Itaqui, que é o “porto do Matopiba”. É o local de saída dos produtos agrícolas que fica mais ao norte do país e, portanto, significa menos custos de exportação para produtores e empresários da região.

O que está sendo feito pelo governo para melhorar a logística dessa região?
A infraestrutura viária e portuária do Matopiba registra avanços significativos, permitindo que importantes corredores de exportação se instalem na região, alimentados pelos modais rodo-hidroviário (BR-153 /rio Tocantins/Barcarena), ferroviário (FNS/EFC/Itaqui) e rodoviário (BR-135/Itaqui) e (BR-242/Cotegipe). Hoje, esses sistemas atendem plenamente as demandas de escoamento da produção agrícola da região. Outras im­portantes ações e obras estruturantes estão em execução ou em fase de planejamento, a exemplo da pavimentação da BR-242, entre os estados de Tocantins e Bahia e melhorias na BR-135 que transporta a pro­dução do Piauí e Maranhão para o Porto do Itaqui. Além disso, a obra de derrocamento do Pedral do Lourenço, ocorrência rochosa que limita a navegação no Rio Tocantins no período de cheia está em fase de contratação e vai permitir a navegação durante o ano inteiro na hidrovia, que destina cargas aos sistemas portuários de Vila do Conde e Outeiro (PA). No Plano de Integração Logística (PIL), a concessão da Ferrovia Norte-Sul, nos trechos de Anápolis a Palmas e Açailândia a Barcarena, vai agregar maior capacidade de transporte de cargas agrícolas da região, com ganho de escala e competitividade para os produtos agropecuários. A Ferrovia de Integração Oeste-leste está sendo construída com recursos do PAC – Plano de Aceleração do Crescimento, enquanto a Ferrovia Transnordestina já está com 55% do empreendimento pronto. Na medida em que as demandas de transporte forem ampliadas, outros equipamentos e soluções poderão ser priorizados na pauta de obras estruturantes do governo para a região do Matopiba.

Fonte: O Estado do Maranhão